01 julho 2009

Cervejas Milenares - Revista Istoé Dinheiro

A revista Istoé Dinheiro desta semana traz uma reportagem, da jornalista Priscilla Portugal, falando sobre cervejas baseadas em receitas milenares. Fui um dos colaboradores da matéria, que segue em reprodução completa abaixo.



Cervejas milenares
Com a ajuda de arqueólogos, a pequena cervejaria americana Dogfish Head consegue chamar a atenção para seus produtos ao recriar o sabor de bebidas fabricadas há milhares de anos
Priscilla Portugal


1- CHAT EAU JIAHU: recriação de bebida encontrada há nove mil anos no norte da China. Sai por US$ 12 e leva ingredientes como uvas, flocos de arroz, mel e crisântemos

2- MIDAS TOUCH: uma bebida fermentada encontrada na Turquia há 2,7 mil anos deu origem a essa cerveja, hoje vendida por US$ 4

3- SAH'TEA: reprodução de uma bebida do século IX, feita com levedura alemã Weizen, especiarias e frutos finlandeses. À venda por US$ 20

4- THEOBROMA: à base de cacau, ela foi criada a partir de uma análise química de fragmentos impregnados em potes de argila com 3,2 mil anos e custa US$ 12

Um grupo de pesquisadores americanos e chineses buscava artefatos milenares no sítio arqueológico na vila de Jiahu, no norte da China, quando se deparou com uma relíquia de valor inestimável. O ano era 2005 e liderados pelo arqueólogo molecular Patrick McGovern, da Universidade da Pensilvânia, os pesquisadores encontraram potes de argila com resquícios de um líquido, que mais tarde seria identificado como uma das primeiras cervejas já produzidas pela humanidade, há nove mil anos. "O líquido estava dentro de potes fechados. Quando suas tampas foram removidas pela primeira vez, sentimos a fragrância de uma bebida fermentada", disse McGovern à época. Curioso para sentir o gosto da cerveja apreciada no período neolítico, ele não teve dúvida: procurou a cervejaria artesanal americana Dogfish Head para recriar a bebida. Depois de testes e mais testes em laboratório, eles lançaram a Chateau Jiahu. "Produzimos apenas 3,3 mil caixas da Chateau Jiahu por ano, o que reforça seu caráter especial", disse à DINHEIRO Sam Calagione, proprietário e presidente da Dogfish Head.

Mapear os sabores e resgatar as fórmulas criadas há milhares de anos tornou-se quase uma especialidade da pequena cervejaria cravada em Milton, no Estado americano de Delaware. Além da Chateau Jiahu, que leva ingredientes como uvas, flocos de arroz fermentados, mel de flores selvagens, malte de cevada e crisântemos, a Dogfish Head já reconstruiu outras três bebidas com milhares de anos. Uma delas, a Theobroma, à base Portugal de cacau, foi criada a partir de uma análise química de fragmentos impregnados em potes de argila com 3,2 mil anos, encontrados no Vale Ulua, em Honduras. Outra foi a Sah'tea - atualização de uma bebida do século IX, da Finlândia, com levedura alemã Weizen, especiarias e frutos. Por último, há também a Midas Touch Golden Elixir, também fruto de uma parceria com o arqueólogo McGovern. A Midas reproduz o sabor de uma bebida fermentada encontrada, na Turquia, em uma tumba real que data de 2,7 mil anos atrás.

Apesar de produzir bebidas que recriam sabores milenares, a Dogfish Head é bem jovem. Fundada em 1995, ela faz uso desses produtos exóticos como ferramenta de marketing. "Como seria difícil para uma empresa pequena competir com grandes do mercado como a Budweiser e a Miller, ela apostou em um tipo específico de consumidor, o do connaisseur, que tem um conhecimento mais amplo e um paladar mais requintado", diz Ivan Pinto, professor de comunicação como fator estratégico na pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). "Ela atrai a mídia pelo fato de reproduzir bebidas antigas." Ou seja, aguça a curiosidade dos consumidores. Por ser a mais antiga entre as opções da cervejaria, a Chateau Jiahu é a que mais chama a atenção. "Ela é adocicada, pois apresenta índice de dez ibu (sigla de international bitter units - medida usada para definir o amargor das cervejas), semelhante ao de uma cerveja nacional, como a Brahma, enquanto a Heineken, para se ter ideia, tem por volta de 17 ibu", explica Eduardo Passarelli, mestre cervejeiro do restaurante Melograno. "Por ser mais suave e feita com uva, a Chateau Jiahu tem gosto próximo ao de um vinho branco e harmonizaria bem com frutos do mar e pratos com molhos leves." Curioso para provar? Por enquanto, ela só é vendida nos Estados Unidos e a garrafa de 750 ml custa cerca de US$ 12.

2 comentários:

Unknown disse...

Muito interessante este post, passei por aqui meio que por acaso. No final do ano irei à Delaware, visitar minha irmã. Já estou pesquisando alguns lugares para visitar por lá...
Bom passagens aéreas compradas, apesar da onda de queda de avião que vemos ultimamente, estou louca pra que chegue a data.
Parabéns pelo post. Bjus

Edu Passarelli disse...

Dri,

Obrigado pela visita!

Beijo